Demorei muito tempo para retornar ao blog, eu sei. É que estive envolvido em várias outras criações off-line. Vou voltar ao conceito de Antropomática, mas retomando pelo exemplo de Buchanan.
Na manhã seguinte, que era sábado, saí cedo de casa, indo diretamente para a casa de meu amigo americano. Tomei café com ele, e logo estávamos na sua caminhonete, rumo ao bairro do Farol, onde se situava o maior supermercado existente em Maceió em 1972: o Ceia. No estacionamento do supermercado havia um pequeno quiosque, onde se vendia uma variedade básica de lanches. John estacionou sua pick-up mais adiante, colocando-a de costas para a porta do supermercado, e eu compreendi que era para facilitar a colocação das compras, que ainda íamos fazer. Depois fomos para o quiosque, onde nos sentamos em volta de uma das duas mesinhas metálicas existentes, e ele pediu ao garçon três sorvetes. Então, disse:
"Minha filha já está acostumada, e vem treinando diligentemente, e, se você não quiser ficar para trás, é bom aprender também. Antropos, do grego, significa humano, daí, "filantropo", que significa "Amante", filo, e "Antropo" humano, ou seja "aquele que ama os seres humanos". Então, eu forjei este termo, ligando "humano", com "método", ou "rotina", que, no grego, é "matis", ou pode se expressar, "mática", para representar o método "em ação". Daí, por exemplo, temos "gramática", de "grama", que é o resultado de "graphos", isto é, o "ato de gravar", que também se pode dizer "grafar", que usamos na grafia, e o sufixo "mática", que é o método, ou seja, há um método estabelecido, combinado, aceito e praticado, de se gravar as palávras, em uma determinada língua. Este método é chamado gra(fo)mática; resumindo: gramática. É uma regra claramente estabelecida, de modo que, ao se escrever de forma diferente da regra, comete-se um "erro gráfico", porque fugiu-se da convenção. Por exemplo, se todo mundo escrevesse do jeito que bem entende, ninguém conseguiria compreender os textos dos outros, e seria um caos. Para isso, existem as regras, os padrões. Dá-se o mesmo com a "Matemática", a "Cartografia", a "Geografia", enfim, com todas as atividades convencionadas num padrão. Então, eu criei o termo Antropomática, como "método do ser humano", com a ideia de definir um padrão metodológico que permita a qualquer pessoa, com o devido conhecimento, e o diligente treinamento e prática, desenvolver suas atividades com agilidade, rapidez e precisão. Isso significa, na prática, economia de tempo, de energia pessoal, que é o esforço, da energia das máquinas utilizadas no trabalho, com redução de possibilidades de erros, e, em última análise, de custos financeiros. Quanto mais ágil você se tornar, numa profissão, ou numa prática qualquer, mais rapidamente vai agir, sem cansaço, menos vai errar, melhor vai ser notado por seu colegas e superiores de trabalho. Todos os grandes artistas da História praticavam incansavelmente seu ofício ou arte, de modo a chegarem o mais perto possível da perfeição, e foi essa busca da perfeição que lhes garantiu lugar na História, e na memória da Humanidade, percorrendo, com sua fama, todas as regiões do nosso mundo, e todas as épocas, até a atual. Desde Platão até Einstein, ou, mais recentemente, os mais considerados expoentes do conhecimento, todos têm por traço comum a busca da perfeição em suas ações, e isso se consegue com os hábitos corretos.
Vou lhe contar um fato do meu tempo de marujo:
Eu e mais quatorze soldados fomos conduzidos até o cais, onde os outros marujos de nossa companhia tinham arrumado umas caixas, uns kits e material de sapa, a ser levados para a guerra, pelos componentes de um cruzador. Eram quinze mil kits, agrupados em pilhas de mil, sendo a base de cada pilha, de dez por dez, com dez kits sobre cada caixa, num volume de 10 x 10 x 10, que totalizava 1.000.
O suboficial que comandava o pelotão mandou que cada um de nós carregasse os kits de uma das pilhas, uma pilha para cada homem, e colocasse todas as caixas sobre estrados numerados, já instalados dentro de um grande galpão, no porto. Para não ser injusto, ele sorteou os soldados, mandando um para cada pilha de kits. O último lote, de nº. 15, ficou sobrando. A ordem era: 'o primeiro que transferir todos os kits de sua pilha para dentro do trapiche, colocando-os na ordem correta, será dispensado do serviço, e terá o dia seguinte de folga. O último, ficará encarregado ainda da pilha 15, como punição.' Eu fui sorteado com o número 13, o penúltimo dos lotes válidos. Cada soldado, ao ouvir seu número de guerra, saía de forma e corria diretamente para sua pilha de kits. Eu fiz diferente. Ao ser chamado, saí andando, e fui diretamente para dentro do trapiche, para identificar o local marcado com o número 13. Então, contiuei andando, até a pilha 13. Caminhei com relativa pressa, contando os passos. O sargento gritava comigo, prometendo me dar um castigo extra, quando eu chegasse com meu kit. Enquanto eu ainda estava indo para minha pilha de kits, outros grumetes já vinham correndo, com suas caixas na mão, na direção do trapiche. Chegando na pilha, contornei-a e peguei o kit mais alto do ângulo oposto à direção da porta do trapiche.
Sem correr, fui contando os passos até chegar a um quarto do total de passos que eu tinha medido, desde o estrado até a pilha, e ali depositei a caixa de madeira, que pesava o equivalente a uns vinte quilogramas. Retornei à pilha e trouxe outra. O sargento e os dois cabos auxiliares gritavam furiosos comigo, dizendo que eu estava enrolando. Antes que eu terminasse de empilhar os kits naquela posição, a 1/4 da distância, alguns soldados já começavam a dar sinais de cansaço, e não corriam mais, apenas andando apressados, com seus kits nas mãos. Quando chegou meu último kit, passei diretamente pela nova pilha, e segui adiante, sempre contando os passos, e comecei a fazer nova pilha, na exata metade da pilha original. A partir daí, eu não precisava ir mais até o lugar da pilha original, quase na extremidade do cais, como meus colegas faziam. Continuei a empilhar as caixas, na meia-distância, na ordem inversa à que foram colocadas por mim, de modo que, ao final, estariam na mesma posição inicial. Depois, fiz uma terceira pilha de kits, a três quartos da distância, já bastante perto da porta do trapiche. Ao final, percorri distância menor ainda, até o estrado número 13, bem no fundo do armazém. Quando terminei, nem mesmo o encarregado da pilha nº. 1, a que ficava mais perto do depósito, tinha terminado sua pilha. Furioso, o sargento veio conferir meus kits, e verificou que estavam precisamente na mesma ordem numérica, pelos números de série, em que estiveram na sua posição inicial. Ele não teve outro remédio que o de me dispensar. Antes do meio-dia eu já estava na praça, com o uniforme de passeio, cortejando as mocinhas, enquanto todos os outros continuaram no pier, até o anoitecer.
Podem ver que eu fiz o processo básico: 0,9 % de ideia, saber o que teria que fazer, que era transportar a pilha de materiais; 90 % de elaboração - enquanto o sargento gritava as ordens, antes de começar o sorteio, eu já buscava o meio menos cansativo e mais ágil de realizar a tarefa; e 9 % de ação, que foi o transporte em si, sem cansaço, sem correria, sem acidentes, nem esbarrões, nem tropeções, e no menor tempo."
Minha namorada, filha do velho marinheiro, já estava acostumada com aquela narrativa, mas eu estava muito admirado.
"Bom... Agora, vamos para o nosso pequeno exercício!", disse John Buchanan.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
domingo, 2 de janeiro de 2011
domingo, 26 de dezembro de 2010
domingo, 7 de novembro de 2010
Antropomática na Prática
Dentro dos conceitos citados em minha última postagem, aliados às ideias absorvidas pela curta mas profícua convivência com John Buchanan, nos anos de 1972 e 1973, quero inserir minha pretensão de ajudar as pessoas a usarem o conceito geral da Antropomática, ou seja, do Homem (Ser Humano) Automático.
Falo Homem como Ser Humano, pois a definição desse ser como todos nós, pertencentes à mesma espécie, se feita apenas no masculino (Homem), dá uma impressão sexista, de excluir as mulheres, ou as pessoas de autodefinição sexual diferenciada. Então, para evitar dúvidas ou atritos, usarei a palavra mais genérica, "pessoa". No entanto, se, em algum momento, eu escorregar e escrever o Homem, sem especficar um personagem masculino, espero que me perdoem pelo deslize.
Antropo, como já disse, se refere ao Ser Humano, e Mática, ao método. Método, que vem da fusão, no idioma grego, das palavras "meth" (meta, final, objetivo, alvo) e "odos" (percurso, caminho, passos), pode se traduzir como "caminho para se chegar ao alvo", ou, mais modernamente, "ações que levam, passo a passo, a uma meta".
Durante toda a nossa vida, procuramos atingir metas, ou objetivos, e procuramos os caminhos para chegar a elas. Muitas vezes, vagamos, perdidos, pelo processo de tentativa, erro e correção (que volta a nova tentativa, novo erro e nova correção), o que nos toma muito tempo e muito esforço, ou seja, custa caro. Por esse caminho, podemos tender à desistência de atingir nossas metas.
Durante toda a nossa vida, também, criamos hábitos e manias, na maioria das vezes, inconscientemente. A nossa maneira de falar, que começa a se manifestar na primeira infância, não é nada mais do que um hábito. O idioma que falamos, também é um hábito. Para podermos nos comunicar com as pessoas ao redor, usamos a mesma língua e a mesma linguagem que aquelas pessoas. Se uma pessoa nascida no Brasil, por exemplo, se mudar, ainda criança, para outro país, onde a língua for muito diferente, acabará se habituando à língua do novo país, e, quanto mais tempo residir lá, tanto mais se acostumará àquela língua, de modo que, gradualmente, vai esquecer sua língua nativa. É um hábito, que como todos os outros, fica mais ou menos arraigado na nossa memória, quanto mais ou menos o praticarmos.
O objetivo da Antropomática, portanto, é criar uma consciência, e uma atitude, que nos permita ser ágeis, tanto quanto possível. Quanto mais praticarmos uma arte ou ofício, tanto melhor nos tornaremos, e isso vai se refletir, no futuro, pelo reconhecimento das pessoas ao nosso redor. Ludwig Van Beethoven (segundo uma biografia sua que li, num fascículo que acompanhava um disco, com algumas obras suas), não gostava de música, mas teve essa arte como ofício, por imposição de seu pai. Diz o texto que o pai de Ludwig contratou um professor de composição para fazer de seu filho um prodígio tão notável quanto Mozart e Bach. Um dia, o professor chegou ao velho Beethoven e sentenciou: "Desisto! Seu filho pode ser um grande matemático, ou um notável engenheiro, mas, como compositor, é um caso perdido!" O fato é que o pequeno prodígio tinha mais afinidade com as ciências exatas do que com a arte, mas, pela imposição do pai, teve que adaptar uma coisa à outra. Talvez seja por isso que tenha sido tão bom compositor que, mesmo depois de ficar quase totalmente surdo, ainda compunha sinfonias maravilhosas (a Nona, talvez a mais bela e, com certeza, a mais conhecida de suas sinfonias, ele fez com menos de 10 % de capacidade auditiva): ele compunha suas músicas "matematicamente"! Estabelecendo, à maneira de Pitágoras, as relações matemáticas entre as frequências e os tempos das notas, e a harmonia existente dentro dos acordes, ele conseguia criar melodias que levavam da ternura à fúria, da calma monástica à alegria. Transmitindo, com os sons, as emoções, os sentidos e sentimentos pretendidos, ele não precisava "ouvir" suas sinfonias para "escuta-las", senti-las e fazer os músicos da orquestra transmitirem à plateia toda a emoção. "A emoção", dizia John Buchanan, "é um recheio, que só pode ser completamente saboreado, se coberto pela massa da lógica."
A emoção, sem a lógica, pode até mover as massas, fazer chorar e rir, criar verdadeiras revoluções, mas, além de perder a beleza, cria o risco de se tornar uma grande decepção.
Na tentativa de negociar o licenciamento da patente da lâmpada elétrica com um proposto fabricante, e depois de estabelecer a confusão entre a importância da invenção e da verba para publicação, o advogado de Johann Philips perguntou a Thomas Alva Edison: "Senhor Edison, sabemos que uma boa invenção, se não obtiver recursos físicos e financeiros para sua produção e venda, será um fracasso... mas, por outro lado, uma instituição financeira, por mais poderosa que seja, sem criar nada de novo, pouco contribuirá para o progresso. Então, para estabelecermos uma relação justa de valor, eu lhe pergunto: qual é a fórmula do gênio?
Edison, compreendendo o ponto, que pretendia, no fundo, estabelecer o percentual justo do royalty a ser pago pelo licenciamento da sua invenção, respondeu, sem titubear: "Um gênio se faz com dez por cento de inspiração e noventa por cento de transpiração!" Essa resposta criou um valor que foi, por vários anos, o tributo legal aplicado aos negócios de licenciamento de patentes, nos Estados Unidos e na Europa.
Depois da Grande Depressão, vendo o nazismo se alastrar pelo mundo, e prevendo a iminência de entrar na guerra, e, sobretudo, sabendo que a vitória, numa guerra de grandes proporções, dependia, sobretudo, da tecnologia, o Presidente Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos, encomendou uma campanha nacional, para que os inventores mais capacitados apresentassem projetos de novos equipamentos bélicos, capazes de vencer os criativos alemães e os audazes japoneses. Para minimizar os custos, que certamente viriam, além da fabricação de novos artefatos, com os royalties, o governo dos EUA publicou uma série de reportagens, apoiando uma campanha publicitária institucional maciça, com a famosa frase de Edison, mas com uma pequena modificação: "Um gênio se faz com 1% de Inspiração e 99 % de Transpiração. - Thomas A Edison". A indústria, como um todo, aprovou a frase, pois, apoiada nela, poderia pagar menos royalties aos inventores, e obter muitos lucros com a Guerra.
Em 1972, vendo essa frase ser citada num programa de televisão, John Buchanan disse: "O certo seria: 0,9 % de Inspiração, 90 % de Elaboração, e 9 % de Ação, de preferência SEM Transpiração!"
Então, eu lhe perguntei: "E o 0,1 % que falta?"
Ele respondeu: "Esperto, você notou que faltava 0,1 %! Essa é a cota da Ocasião!"
E exemplificou: "Quem inventou o avião? Foi o brasileiro Santos-Dumont? Foram meus compatriotas, os irmãos Wright? Foi o francês Bleriot? Foram os italianos? Os alemães? Os portugueses? Não: foi a ocasião! A navegação aérea tinha se tornado uma necessidade, naquele tempo. As invenções da época já pediam por um transporte mais rápido e seguro, que driblasse as curvas das estradas, e as dificuldades da navegação marítima. Já existia o cabograma, que transmitia mensagens quase simultaneamente através do oceano. Mas os transportes eram extremamente lentos, e os balões, imprecisos. Os próprios dirigíveis eram pouco confiáveis. As ideias de Jules Verne, no seu romance "O Dono Do Mundo", citando um veículo que podia trafegar pela terra, navegar na superfície e no fundo do mar, e até no ar, tinha apontado para a possibilidade de uma aeronavegação autônoma, e todos os inventores do mundo pesquisavam e batalhavam naquela direção. A tecnologia prévia já existia; só faltava o produto. Era a ocasião propícia. Santos-Dumont foi mais feliz, mas, fatalmente alguém chegaria lá! Então, independente de quem teve a melhor ideia, era a ocasião propícia para o surgimento do avião!"
"E como podemos usar, na prática, sua equação?" insisti.
"Se Edison pensasse, na época, como eu penso, ele não precisaria de mais de 3.000 experiências frustradas até chegar à lâmpada elétrica. Com mais elaboração, mais cálculos e menos tempo, gastando menos e tendo menos frustrações, ele teria resolvido o problema racionalmente."
Como eu ainda não estava satisfeito, ele me disse: "Amanhã eu vou fazer as compras da família. Venha tomar café conosco, e eu lhe darei um exemplo. Sairemos daqui às oito horas."
Eu fui, e amanhã conto o resto!
Falo Homem como Ser Humano, pois a definição desse ser como todos nós, pertencentes à mesma espécie, se feita apenas no masculino (Homem), dá uma impressão sexista, de excluir as mulheres, ou as pessoas de autodefinição sexual diferenciada. Então, para evitar dúvidas ou atritos, usarei a palavra mais genérica, "pessoa". No entanto, se, em algum momento, eu escorregar e escrever o Homem, sem especficar um personagem masculino, espero que me perdoem pelo deslize.
Antropo, como já disse, se refere ao Ser Humano, e Mática, ao método. Método, que vem da fusão, no idioma grego, das palavras "meth" (meta, final, objetivo, alvo) e "odos" (percurso, caminho, passos), pode se traduzir como "caminho para se chegar ao alvo", ou, mais modernamente, "ações que levam, passo a passo, a uma meta".
Durante toda a nossa vida, procuramos atingir metas, ou objetivos, e procuramos os caminhos para chegar a elas. Muitas vezes, vagamos, perdidos, pelo processo de tentativa, erro e correção (que volta a nova tentativa, novo erro e nova correção), o que nos toma muito tempo e muito esforço, ou seja, custa caro. Por esse caminho, podemos tender à desistência de atingir nossas metas.
Durante toda a nossa vida, também, criamos hábitos e manias, na maioria das vezes, inconscientemente. A nossa maneira de falar, que começa a se manifestar na primeira infância, não é nada mais do que um hábito. O idioma que falamos, também é um hábito. Para podermos nos comunicar com as pessoas ao redor, usamos a mesma língua e a mesma linguagem que aquelas pessoas. Se uma pessoa nascida no Brasil, por exemplo, se mudar, ainda criança, para outro país, onde a língua for muito diferente, acabará se habituando à língua do novo país, e, quanto mais tempo residir lá, tanto mais se acostumará àquela língua, de modo que, gradualmente, vai esquecer sua língua nativa. É um hábito, que como todos os outros, fica mais ou menos arraigado na nossa memória, quanto mais ou menos o praticarmos.
O objetivo da Antropomática, portanto, é criar uma consciência, e uma atitude, que nos permita ser ágeis, tanto quanto possível. Quanto mais praticarmos uma arte ou ofício, tanto melhor nos tornaremos, e isso vai se refletir, no futuro, pelo reconhecimento das pessoas ao nosso redor. Ludwig Van Beethoven (segundo uma biografia sua que li, num fascículo que acompanhava um disco, com algumas obras suas), não gostava de música, mas teve essa arte como ofício, por imposição de seu pai. Diz o texto que o pai de Ludwig contratou um professor de composição para fazer de seu filho um prodígio tão notável quanto Mozart e Bach. Um dia, o professor chegou ao velho Beethoven e sentenciou: "Desisto! Seu filho pode ser um grande matemático, ou um notável engenheiro, mas, como compositor, é um caso perdido!" O fato é que o pequeno prodígio tinha mais afinidade com as ciências exatas do que com a arte, mas, pela imposição do pai, teve que adaptar uma coisa à outra. Talvez seja por isso que tenha sido tão bom compositor que, mesmo depois de ficar quase totalmente surdo, ainda compunha sinfonias maravilhosas (a Nona, talvez a mais bela e, com certeza, a mais conhecida de suas sinfonias, ele fez com menos de 10 % de capacidade auditiva): ele compunha suas músicas "matematicamente"! Estabelecendo, à maneira de Pitágoras, as relações matemáticas entre as frequências e os tempos das notas, e a harmonia existente dentro dos acordes, ele conseguia criar melodias que levavam da ternura à fúria, da calma monástica à alegria. Transmitindo, com os sons, as emoções, os sentidos e sentimentos pretendidos, ele não precisava "ouvir" suas sinfonias para "escuta-las", senti-las e fazer os músicos da orquestra transmitirem à plateia toda a emoção. "A emoção", dizia John Buchanan, "é um recheio, que só pode ser completamente saboreado, se coberto pela massa da lógica."
A emoção, sem a lógica, pode até mover as massas, fazer chorar e rir, criar verdadeiras revoluções, mas, além de perder a beleza, cria o risco de se tornar uma grande decepção.
Na tentativa de negociar o licenciamento da patente da lâmpada elétrica com um proposto fabricante, e depois de estabelecer a confusão entre a importância da invenção e da verba para publicação, o advogado de Johann Philips perguntou a Thomas Alva Edison: "Senhor Edison, sabemos que uma boa invenção, se não obtiver recursos físicos e financeiros para sua produção e venda, será um fracasso... mas, por outro lado, uma instituição financeira, por mais poderosa que seja, sem criar nada de novo, pouco contribuirá para o progresso. Então, para estabelecermos uma relação justa de valor, eu lhe pergunto: qual é a fórmula do gênio?
Edison, compreendendo o ponto, que pretendia, no fundo, estabelecer o percentual justo do royalty a ser pago pelo licenciamento da sua invenção, respondeu, sem titubear: "Um gênio se faz com dez por cento de inspiração e noventa por cento de transpiração!" Essa resposta criou um valor que foi, por vários anos, o tributo legal aplicado aos negócios de licenciamento de patentes, nos Estados Unidos e na Europa.
Depois da Grande Depressão, vendo o nazismo se alastrar pelo mundo, e prevendo a iminência de entrar na guerra, e, sobretudo, sabendo que a vitória, numa guerra de grandes proporções, dependia, sobretudo, da tecnologia, o Presidente Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos, encomendou uma campanha nacional, para que os inventores mais capacitados apresentassem projetos de novos equipamentos bélicos, capazes de vencer os criativos alemães e os audazes japoneses. Para minimizar os custos, que certamente viriam, além da fabricação de novos artefatos, com os royalties, o governo dos EUA publicou uma série de reportagens, apoiando uma campanha publicitária institucional maciça, com a famosa frase de Edison, mas com uma pequena modificação: "Um gênio se faz com 1% de Inspiração e 99 % de Transpiração. - Thomas A Edison". A indústria, como um todo, aprovou a frase, pois, apoiada nela, poderia pagar menos royalties aos inventores, e obter muitos lucros com a Guerra.
Em 1972, vendo essa frase ser citada num programa de televisão, John Buchanan disse: "O certo seria: 0,9 % de Inspiração, 90 % de Elaboração, e 9 % de Ação, de preferência SEM Transpiração!"
Então, eu lhe perguntei: "E o 0,1 % que falta?"
Ele respondeu: "Esperto, você notou que faltava 0,1 %! Essa é a cota da Ocasião!"
E exemplificou: "Quem inventou o avião? Foi o brasileiro Santos-Dumont? Foram meus compatriotas, os irmãos Wright? Foi o francês Bleriot? Foram os italianos? Os alemães? Os portugueses? Não: foi a ocasião! A navegação aérea tinha se tornado uma necessidade, naquele tempo. As invenções da época já pediam por um transporte mais rápido e seguro, que driblasse as curvas das estradas, e as dificuldades da navegação marítima. Já existia o cabograma, que transmitia mensagens quase simultaneamente através do oceano. Mas os transportes eram extremamente lentos, e os balões, imprecisos. Os próprios dirigíveis eram pouco confiáveis. As ideias de Jules Verne, no seu romance "O Dono Do Mundo", citando um veículo que podia trafegar pela terra, navegar na superfície e no fundo do mar, e até no ar, tinha apontado para a possibilidade de uma aeronavegação autônoma, e todos os inventores do mundo pesquisavam e batalhavam naquela direção. A tecnologia prévia já existia; só faltava o produto. Era a ocasião propícia. Santos-Dumont foi mais feliz, mas, fatalmente alguém chegaria lá! Então, independente de quem teve a melhor ideia, era a ocasião propícia para o surgimento do avião!"
"E como podemos usar, na prática, sua equação?" insisti.
"Se Edison pensasse, na época, como eu penso, ele não precisaria de mais de 3.000 experiências frustradas até chegar à lâmpada elétrica. Com mais elaboração, mais cálculos e menos tempo, gastando menos e tendo menos frustrações, ele teria resolvido o problema racionalmente."
Como eu ainda não estava satisfeito, ele me disse: "Amanhã eu vou fazer as compras da família. Venha tomar café conosco, e eu lhe darei um exemplo. Sairemos daqui às oito horas."
Eu fui, e amanhã conto o resto!
sexta-feira, 19 de março de 2010
3 em 1
Desde criança tenho procurado (como muita gente) uma definição, ou, pelo menos, uma descrição de "Ser Humano". O que é uma pessoa?
Li a Bíblia, por inteiro, algumas vezes. A primeira vez foi a mais fácil, pois foi uma leitura feita na empolgação, com muita fome de chegar ao final, mesmo que não compreendesse muita coisa. Mas foi precisamente aquela primeira leitura a que mais aproveitei, assim como a primeira namorada é a que mais saboreamos. Talvez por não estar com a mente tão contaminada por doutrinas diversas, por ser uma mero curioso, ou aprendiz, eu gravei na minha mente mais imagens, situações e conceitos, do que em todas as vezes posteriores. Isso aconteceu em 1969/1970, eu tinha 12/13 anos, e estava passando do último ano do primário para o primeiro ano do ginásio... e tinha ficado muito chocado com "coisas" que eu via na igreja "N. Sa. do Perpétuo Socorro", que não condiziam com as aulas que eu recebia do catecismo.
Claro, pela minha idade, eu estava "atrasado" para a 1ª Comunhão, e por isso era catecúmeno.
Mas algumas coisas não condiziam e eu achei que tinha que escolher uma definição de religião, uma sequência doutrinária e comportamental que me inserisse em um padrão social.
E achei que seria mais seguro se tomasse por ponto de partida o cristianismo, no qual estava hereditariamente inserido. E tal doutrina tinha como fundamento a Bíblia. Então, tomei um exemplar que tinha lá em casa, da tradução de João Ferreira de Almeida, e a "devorei", entre os meses de setembro e abril. De manhã, à tarde e à noite, eu era visto concentrado na leitura daquela fascinante compilação de escrituras antigas.
Ao terminar a leitura, com a cabeça cheia de ideias e imagens, para não perder o pique, mergulhei na Divina Comédia, de Dante, aprofundando-me numa edição especial, que meu pai tinha adquirido, e que impressionava muito. Eram cinco volumes grossos, de capa dura cor de vinho e títulos dourados, com o texto em versos, em italiano, e a tradução, nas páginas direitas, de cada estrofe, em prosa, com explicações e notas de rodapé. Uma riqueza sem tamanho! Impressionantes também eram as gravuras, em clichê, no estilo renascentista, que aumentavam ainda mais o pavor que o texto procurava imprimir, nos 24 cantos do Inferno, e o êxtase, na passagem do Paraíso. As imagens do Inferno e do Purgatório chegavam a abalar-me, durante o sono, principalmente quando, naqueles dias, durante as férias, um colega meu morreu afogado no Rio Guaporé e eu fui ao seu velório. O corpo, encontrado dois dias depois de seu desaparecimento, boiando nas águas, perto da cachoeira, estava deformado, muito inchado, com as pontas do nariz roídas pelos peixes, e aquela imagem, de um colega que, dias antes, era um menino ativo e alegre, apelidado de "meio-quilo", por causa de sua magreza, agora estava muito diferente, e meu subconsciente a associava às monstruosas ilustrações do Inferno dantesco.
Depois da "Comédia", li um livrinho grosso, no formato de bolso, da Edições de Ouro: "A História das Religiões". Era um apanhado geral, com a história e os fundamentos do judaísmo, do budismo, hinduísmo, catolicismo, protestantismo, neo-protestantismo, para-protestantismo, espiritismo africano e cardecista. Sua análise fria, isenta, que não tencionava converter ninguém, foi de muita ajuda. Depois li, por empréstimo de um colega, que era adepto daquela doutrina, "O Evangelho Segundo O Espiritismo" e "O Livro Dos Espíritos". Foi uma leitura longa, pois a Bíblia era frequentemente citada, e eu me via obrigado a confrontar as duas fontes. Isso aconteceu em Maceió, em 1972/73. Devo dizer que, antes da mudança de minha família, de Rondônia para Alagoas (Fev/71), eu tinha deixado de frequentar a igreja católica e passei algum tempo frequentando a igreja batista. Em Maceió, voltei a frequentar as duas, simultaneamente, e, por influência de meu colega, fui também a várias reuniões de "mesa branca" e reuniões doutrinárias do cardecismo. Mas não assumia a adesão a nenhuma daquelas diferentes seitas. Voltando para Rondônia, tomei conhecimento da igreja presbiteriana, que eu já sabia, pela leitura da Ediouro, que era uma das quatro doutrinas chamadas "protestantes", criada por influência de Calvino.
Eu tinha uma ideia básica do que seria o ser humano, "criado à imagem e semelhança de seu Criador". E o Criador era representado, no cristianismo, como uma pessoa em três pessoas. Vi que as três Pessoas de Deus representam três pessoas intrínsecas da pessoa Humana: Deus Pai, Criador, ligado diretamente à Natureza, ao Universo Físico, Tridimensional. A Criação, conforme descrita na Bíblia, evoca intensamente a figura paterna, do Deus Criador, que faz tudo conforme sua própria vontade, com autonomia e autoridade, de acordo com Seu gosto. A outra figura de Deus, o Filho, é uma figura tremendamente humana, sensível, amorosa, sofredora, compassiva, que reinterpreta as leis divinas pela ótica do amor e do perdão, e se deixa imolar em expiação pelas falhas da Humanidade. A terceira pessoa, o Espírito, é o paráclito, o racional, o pedaço de Deus que dá aos homens a razão, o sentido, a capacidade de análise e julgamento.
Notei que essa tríplice personalidade divina também está no Homem, que é físico, com as limitações do corpo, e sujeito às leis da Natureza, percebidas pelos cinco sentidos básicos; é emocional e emotivo, e de seus medos e desejos derivam muitas das suas capacidades; e é racional, o suficiente para subjugar as forças da natureza, na medida do possível, tornando sua vida mais fácil, segura e produtiva.
E era isso o que eu buscava, desde a infância: tornar-me um ser capaz de pensar, sentir e agir equilibradamente, integrando as três características de meu ser, de modo a não me cansar demasiadamente, nem me deixar abalar emocionalmente com facilidade, e aproveitar o máximo da natureza em meu favor.
Posteriormente, descobri que vários pensadores modernos também definem o Homem da mesma forma: Freud define Homem com um ser que possui, em si, um Id, um Ego e um Superego, e assim estruturou a Psicanálise; Swoboda e Fletsch descobriram o Biorritmo, verificando que nosso organismo tem períodos regulares de maior e menor capacidades física, emocional e intelectual; Eric Berne também percebeu que a personalidade humana tem seu Ego Pai (Criador, natural, físico), seu Ego Adulto (racional, paráclito, lógico) e seu Ego Criança (sentimental, sensível, emotivo e intuitivo), e que as três pessoas do Ego mudam de estado constantemente, em relação a sua interação e transação com outras pessoas e com o próprio ambiente, podendo, em um momento, exercer um Estado do Ego Pai, ou o Estado do Ego Adulto, ou, ainda, o seu estado do Ego Criança, como comandante de suas ações e de suas relações; a ciência criada por Berne, chamada Análise Transacional, ainda compreende que os estados do Ego podem estar evocados de maneira positiva (OK) ou negativa (Não-OK), e que podem mudar, de pessoas para pessoa, de momento para momento, ou com relação à ocasião, ao ambiente ou ao contexto. Mais recentemente, outros estudiosos, Binder e Grandler, criaram uma nova filosofia, a que chamam de Programação Neuroliguística, que consiste numa nova maneira de compreender e administrar as relações da pessoa com outras pessoas, com o ambiente, ou consigo mesma, compreendendo que a personalidade está diretamente lincada ao seu canal preferido de comunicação: Visual, Auditivo ou Cinestésico. As pessoas Visuais tendem a ser mais perceptivas, emotivas e espirituosas, e se impõem no ambiente pela apresentação visual (vestuário, iluminação, maquiagem, perfume, etc.); A pessoal Auditiva, costuma era mais racional, atenta às palavras e aos sentidos não percebidos pelos olhos, tornando-se críticas e argutas, com boa capacidade de análise fria e isenta; As pessoas cinestésicas, por seu lado, são mais ativas, trabalhadoras, e ao mesmo tampo calorosas, sensuais, mas não necessariamente emotivas, e utilizam bastante os gestos e movimentos corporais em sua comunicação, sendo mais atentas à mímica do que à audição. A Sociobiologia, criada por Edward Osborne Wilson, estabeleceu que os seres vivos (não apenas humanos), herdam e legam uma espécie de educação intra-celular, repassando a suas gerações os conhecimentos adquiridos geneticamente e mantidos ao longo da vida, estabelecendo hábitos característicos, assim como suas próprias características físicas. Tais características tendem a conservar, em maior ou menor intensidade, as mesmas que foram herdadas, nos campos biotípico (fenótipo e genótipo, tendência a doenças hereditárias, resistência e fraquezas, potencialidades e limitações, etc.), racional (repetição de hábitos, sotaques, cestres, memória, etc.) e emocional (desejos, temores, aversão, indiferença, etc.).
De todas essas diferentes idéias, interindependentes e autônomas, pode-se depreender facilmente a existência de uma verdade comum: o Homem não é só um. É três em um.
Meu desejo, desde que comecei a entender essas coisas (antes mesmo de ler a respeito delas), sempre foi encontrar um equilíbrio, de forma a potencializar as três características que fazem de mim um ser completo, de modo a ser mais produtivo, lúcido e feliz.
De certa fora, tenho conseguido, e espero poder juntar pessoas para que possam formar uma ideia unificada e sistemática a respeito, para que possamos nos integrar e melhorar nosso Ser Integral.
Li a Bíblia, por inteiro, algumas vezes. A primeira vez foi a mais fácil, pois foi uma leitura feita na empolgação, com muita fome de chegar ao final, mesmo que não compreendesse muita coisa. Mas foi precisamente aquela primeira leitura a que mais aproveitei, assim como a primeira namorada é a que mais saboreamos. Talvez por não estar com a mente tão contaminada por doutrinas diversas, por ser uma mero curioso, ou aprendiz, eu gravei na minha mente mais imagens, situações e conceitos, do que em todas as vezes posteriores. Isso aconteceu em 1969/1970, eu tinha 12/13 anos, e estava passando do último ano do primário para o primeiro ano do ginásio... e tinha ficado muito chocado com "coisas" que eu via na igreja "N. Sa. do Perpétuo Socorro", que não condiziam com as aulas que eu recebia do catecismo.
Claro, pela minha idade, eu estava "atrasado" para a 1ª Comunhão, e por isso era catecúmeno.
Mas algumas coisas não condiziam e eu achei que tinha que escolher uma definição de religião, uma sequência doutrinária e comportamental que me inserisse em um padrão social.
E achei que seria mais seguro se tomasse por ponto de partida o cristianismo, no qual estava hereditariamente inserido. E tal doutrina tinha como fundamento a Bíblia. Então, tomei um exemplar que tinha lá em casa, da tradução de João Ferreira de Almeida, e a "devorei", entre os meses de setembro e abril. De manhã, à tarde e à noite, eu era visto concentrado na leitura daquela fascinante compilação de escrituras antigas.
Ao terminar a leitura, com a cabeça cheia de ideias e imagens, para não perder o pique, mergulhei na Divina Comédia, de Dante, aprofundando-me numa edição especial, que meu pai tinha adquirido, e que impressionava muito. Eram cinco volumes grossos, de capa dura cor de vinho e títulos dourados, com o texto em versos, em italiano, e a tradução, nas páginas direitas, de cada estrofe, em prosa, com explicações e notas de rodapé. Uma riqueza sem tamanho! Impressionantes também eram as gravuras, em clichê, no estilo renascentista, que aumentavam ainda mais o pavor que o texto procurava imprimir, nos 24 cantos do Inferno, e o êxtase, na passagem do Paraíso. As imagens do Inferno e do Purgatório chegavam a abalar-me, durante o sono, principalmente quando, naqueles dias, durante as férias, um colega meu morreu afogado no Rio Guaporé e eu fui ao seu velório. O corpo, encontrado dois dias depois de seu desaparecimento, boiando nas águas, perto da cachoeira, estava deformado, muito inchado, com as pontas do nariz roídas pelos peixes, e aquela imagem, de um colega que, dias antes, era um menino ativo e alegre, apelidado de "meio-quilo", por causa de sua magreza, agora estava muito diferente, e meu subconsciente a associava às monstruosas ilustrações do Inferno dantesco.
Depois da "Comédia", li um livrinho grosso, no formato de bolso, da Edições de Ouro: "A História das Religiões". Era um apanhado geral, com a história e os fundamentos do judaísmo, do budismo, hinduísmo, catolicismo, protestantismo, neo-protestantismo, para-protestantismo, espiritismo africano e cardecista. Sua análise fria, isenta, que não tencionava converter ninguém, foi de muita ajuda. Depois li, por empréstimo de um colega, que era adepto daquela doutrina, "O Evangelho Segundo O Espiritismo" e "O Livro Dos Espíritos". Foi uma leitura longa, pois a Bíblia era frequentemente citada, e eu me via obrigado a confrontar as duas fontes. Isso aconteceu em Maceió, em 1972/73. Devo dizer que, antes da mudança de minha família, de Rondônia para Alagoas (Fev/71), eu tinha deixado de frequentar a igreja católica e passei algum tempo frequentando a igreja batista. Em Maceió, voltei a frequentar as duas, simultaneamente, e, por influência de meu colega, fui também a várias reuniões de "mesa branca" e reuniões doutrinárias do cardecismo. Mas não assumia a adesão a nenhuma daquelas diferentes seitas. Voltando para Rondônia, tomei conhecimento da igreja presbiteriana, que eu já sabia, pela leitura da Ediouro, que era uma das quatro doutrinas chamadas "protestantes", criada por influência de Calvino.
Eu tinha uma ideia básica do que seria o ser humano, "criado à imagem e semelhança de seu Criador". E o Criador era representado, no cristianismo, como uma pessoa em três pessoas. Vi que as três Pessoas de Deus representam três pessoas intrínsecas da pessoa Humana: Deus Pai, Criador, ligado diretamente à Natureza, ao Universo Físico, Tridimensional. A Criação, conforme descrita na Bíblia, evoca intensamente a figura paterna, do Deus Criador, que faz tudo conforme sua própria vontade, com autonomia e autoridade, de acordo com Seu gosto. A outra figura de Deus, o Filho, é uma figura tremendamente humana, sensível, amorosa, sofredora, compassiva, que reinterpreta as leis divinas pela ótica do amor e do perdão, e se deixa imolar em expiação pelas falhas da Humanidade. A terceira pessoa, o Espírito, é o paráclito, o racional, o pedaço de Deus que dá aos homens a razão, o sentido, a capacidade de análise e julgamento.
Notei que essa tríplice personalidade divina também está no Homem, que é físico, com as limitações do corpo, e sujeito às leis da Natureza, percebidas pelos cinco sentidos básicos; é emocional e emotivo, e de seus medos e desejos derivam muitas das suas capacidades; e é racional, o suficiente para subjugar as forças da natureza, na medida do possível, tornando sua vida mais fácil, segura e produtiva.
E era isso o que eu buscava, desde a infância: tornar-me um ser capaz de pensar, sentir e agir equilibradamente, integrando as três características de meu ser, de modo a não me cansar demasiadamente, nem me deixar abalar emocionalmente com facilidade, e aproveitar o máximo da natureza em meu favor.
Posteriormente, descobri que vários pensadores modernos também definem o Homem da mesma forma: Freud define Homem com um ser que possui, em si, um Id, um Ego e um Superego, e assim estruturou a Psicanálise; Swoboda e Fletsch descobriram o Biorritmo, verificando que nosso organismo tem períodos regulares de maior e menor capacidades física, emocional e intelectual; Eric Berne também percebeu que a personalidade humana tem seu Ego Pai (Criador, natural, físico), seu Ego Adulto (racional, paráclito, lógico) e seu Ego Criança (sentimental, sensível, emotivo e intuitivo), e que as três pessoas do Ego mudam de estado constantemente, em relação a sua interação e transação com outras pessoas e com o próprio ambiente, podendo, em um momento, exercer um Estado do Ego Pai, ou o Estado do Ego Adulto, ou, ainda, o seu estado do Ego Criança, como comandante de suas ações e de suas relações; a ciência criada por Berne, chamada Análise Transacional, ainda compreende que os estados do Ego podem estar evocados de maneira positiva (OK) ou negativa (Não-OK), e que podem mudar, de pessoas para pessoa, de momento para momento, ou com relação à ocasião, ao ambiente ou ao contexto. Mais recentemente, outros estudiosos, Binder e Grandler, criaram uma nova filosofia, a que chamam de Programação Neuroliguística, que consiste numa nova maneira de compreender e administrar as relações da pessoa com outras pessoas, com o ambiente, ou consigo mesma, compreendendo que a personalidade está diretamente lincada ao seu canal preferido de comunicação: Visual, Auditivo ou Cinestésico. As pessoas Visuais tendem a ser mais perceptivas, emotivas e espirituosas, e se impõem no ambiente pela apresentação visual (vestuário, iluminação, maquiagem, perfume, etc.); A pessoal Auditiva, costuma era mais racional, atenta às palavras e aos sentidos não percebidos pelos olhos, tornando-se críticas e argutas, com boa capacidade de análise fria e isenta; As pessoas cinestésicas, por seu lado, são mais ativas, trabalhadoras, e ao mesmo tampo calorosas, sensuais, mas não necessariamente emotivas, e utilizam bastante os gestos e movimentos corporais em sua comunicação, sendo mais atentas à mímica do que à audição. A Sociobiologia, criada por Edward Osborne Wilson, estabeleceu que os seres vivos (não apenas humanos), herdam e legam uma espécie de educação intra-celular, repassando a suas gerações os conhecimentos adquiridos geneticamente e mantidos ao longo da vida, estabelecendo hábitos característicos, assim como suas próprias características físicas. Tais características tendem a conservar, em maior ou menor intensidade, as mesmas que foram herdadas, nos campos biotípico (fenótipo e genótipo, tendência a doenças hereditárias, resistência e fraquezas, potencialidades e limitações, etc.), racional (repetição de hábitos, sotaques, cestres, memória, etc.) e emocional (desejos, temores, aversão, indiferença, etc.).
De todas essas diferentes idéias, interindependentes e autônomas, pode-se depreender facilmente a existência de uma verdade comum: o Homem não é só um. É três em um.
Meu desejo, desde que comecei a entender essas coisas (antes mesmo de ler a respeito delas), sempre foi encontrar um equilíbrio, de forma a potencializar as três características que fazem de mim um ser completo, de modo a ser mais produtivo, lúcido e feliz.
De certa fora, tenho conseguido, e espero poder juntar pessoas para que possam formar uma ideia unificada e sistemática a respeito, para que possamos nos integrar e melhorar nosso Ser Integral.
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domingo, 28 de junho de 2009
Centren
Quantas vezes já morreste?
Em quantas ocasiões pudeste dizer: "Nasci de novo!"?
Esta frase sempre nos ocorre, quando passsamos por uma situação muito perigosa, que poderia ter encerrado a nossa trajetória no mundo dos vivos.
No livro "Um", o pensador-aventureiro Richard Bach propõe uma viagem por um labirinto que representa várias mudanças ocorridas ao longo de sua vida, até aquele momento. Cada uma daquelas situações é representada por uma encruzilhada, na qual ele tomou uma decisão, entre duas ou mais oferecidas. Então, ele se vê na situação em que estaria se tivesse tomado, naquela ocasião, uma decisão diferente daquela que realmente tomara, e que o levou até sua posição atual. Gostei daquele livro, porque me dizia muito de mim mesmo. Já perdi várias chances seguras de morrer, por exemplo. Principalmente durante a infância, já passei por várias situações de elevadísimo risco. De alguma forma, costumo pensar que eu posso ser, na verdade, o "outro eu"; o "primeiro eu", o principal, foi aquele que morreu daquela doença grave de minha primeira infância, quando fui desenganado pelos médicos, e o "outro eu", o que sou agora, foi o que sobreviveu, e que, neste mundo paralelo, nesta dimentsão, acabou se tornando o "primeiro eu". Só que este novo "primeiro eu" acabou morrendo naquele acidente em que foi atacado por um boi bravo, escapado de uma boiada descontrolada, e que veio ao meu encontro. O "outro eu" daquela ocasião, foi o que continuou, até se tornar "primeiro" num novo paralelo. E isso aconteceu tantas vezes que perdi a conta. Este "eu" que está aqui, escrevendo neste blog, é um "outro de outro, de outro de... muitos outros 'eus'", que chegou aqui, neste "outro mundo". Às vezes, penso em como seria bom encontrar-me de verdade comigo mesmo, com algum daqueles outros eus, que tomou uma decisão diferente de alguma daquelas que me trouxeram até onde estou hoje. Pode ser aquele que permaneceu no primeiro emprego, que não ficou rico, mas construiu um pequeno, porém seguro, patrimônio, que mantém com aquela garota por quem se apaixonou, junto com os três filhos que geraram e criaram juntos, e que hoje são jovens adultos, a caminho de seus próprias realizações profissionais; às vezes, sou visitado por aquele outro "eu", que se aventurou a sair do país, em época de crise, e que foi bem sucedido, e vem zombar do "eu" em que me tornei, fracassado, frustrado e sem chances de retornar ao que já fui, pois o tempo "deste mundo" não me premite retornar... e me sinto, no fundo, feliz, por saber que um outro "eu" foi bem sucedido; em uma dimensão paralela, eu estou feliz e realizado, e visito os outros "eus" que não tiveram a mesma ventura.
Certa ocasião, fiz amizade com uma família, cujo pai me ajudou a perceber a teoria do centro do universo.
Num teatro infantil, em que eu fui acompanhando minha namorada, filha daquele senhor, daquele sábio que adotei como guru, vimos algumas das aventuras de Pedro Malazartes. Na peça, o rei pergunta a Malazartes, testando a sapiência que o personagem central propalava: "Onde fica o centro do mundo?" Então Malazartes responde: "Aí, mesmo! Exatamente onde está vossa cabeça! Se duvida, vossa majestade meça a distância da ponta final do mundo à sua frente, vire-se para o outro lado, e meça a sua distância até o limite oposto do mundo. Se não der a mesma distância, pode me reprovar!" O rei pensou, pensou, ficou atrapalhado, e se deu por vencido. A platéia riu, e a peça continuou, com muitas outras risadas.
Após a peça, comentei com minha namorada sobre a sagacidade de Pedro Malazartes, e o pai dela, que tinha nos levado ao teatro, disse: "É verdade! É correto o que o espertalhão disse ao rei, sobre o centro do mundo."
"Ele enganou o rei, que não podia provar o contrário!", retruquei.
"Mas não era nenhum truque!", objetou meu pretenso futuro sogro. "O centro do Universo, para o rei, era exatamente o ponto onde ficava o centro de sua consciência. O mesmo acontece com você, comigo e com todos os seres. Cada um é o centro da percepção, da consciência e do conhecimento de seu próprio Universo. Por exepmlo: outro dia, quando subíamos pela ladeira do Farol, você arfava, subindo com dificuldade, enquanto eu e minha filha subíamos juntos, na mesma velocidade, sem alterarmos nosso ritmo respiratório. A ladeira era a mesma, só que, para o meu universo, e de minha filha, era uma ladeira suave, mas para o seu universo, era íngreme. Por isso, você não aguentava tanto quando nós! Cada um de nós molda o seu universo conforme sua própria consciência e desejos! Quando duas pessoas, que vêm de lugares diferentes, se encontram pela primeira vez, são dois universos que se cruzam, no Universo maior das Possibilidades, e no mais estreito, mais ainda muito amplo, Universo das Probabilidades. A interação dessas pessoas vai depender do universo particular que cada uma moldou para si. Se houver pontos concordadntes, essas duas pessoas têm grande probabilidade de se tornarem amigas, mas, se forem muito discordantes naquele primeiro momento, provavelmente não terão harmonia. Queira ou não, acredite ou não, somente você pode determinar o que vai permitir ou não entrar e permanecer no seu próprio Universo, do qual você é o centro."
"Mas, por que somos obrigados a fazer o que não queremos, a cumprir ordens e leis coma as quais não concordamos?"
"Ninguém é obrigado a fazer o que não deseja! Do mesmo modo que este "você", que está aqui na minha frente, teve que fazer coisas que não queria, existe, em alguma dimensão paralela, próxima de você, o outro "você", que optou por não fazer as mesmas coisas. O importante é que você saiba que você é o centro do seu próprio Universo, e que existem muitos outros universos, comuns no mesmo tempo, e no mesmo espaço, mas em dimensões diferentes, paralelas e permeáveis."
Este é o princípio da teoria Centre, que junto com a idéia do Universo Triúno, vem apoiar a Antropomática.
Até a próxima!
Em quantas ocasiões pudeste dizer: "Nasci de novo!"?
Esta frase sempre nos ocorre, quando passsamos por uma situação muito perigosa, que poderia ter encerrado a nossa trajetória no mundo dos vivos.
No livro "Um", o pensador-aventureiro Richard Bach propõe uma viagem por um labirinto que representa várias mudanças ocorridas ao longo de sua vida, até aquele momento. Cada uma daquelas situações é representada por uma encruzilhada, na qual ele tomou uma decisão, entre duas ou mais oferecidas. Então, ele se vê na situação em que estaria se tivesse tomado, naquela ocasião, uma decisão diferente daquela que realmente tomara, e que o levou até sua posição atual. Gostei daquele livro, porque me dizia muito de mim mesmo. Já perdi várias chances seguras de morrer, por exemplo. Principalmente durante a infância, já passei por várias situações de elevadísimo risco. De alguma forma, costumo pensar que eu posso ser, na verdade, o "outro eu"; o "primeiro eu", o principal, foi aquele que morreu daquela doença grave de minha primeira infância, quando fui desenganado pelos médicos, e o "outro eu", o que sou agora, foi o que sobreviveu, e que, neste mundo paralelo, nesta dimentsão, acabou se tornando o "primeiro eu". Só que este novo "primeiro eu" acabou morrendo naquele acidente em que foi atacado por um boi bravo, escapado de uma boiada descontrolada, e que veio ao meu encontro. O "outro eu" daquela ocasião, foi o que continuou, até se tornar "primeiro" num novo paralelo. E isso aconteceu tantas vezes que perdi a conta. Este "eu" que está aqui, escrevendo neste blog, é um "outro de outro, de outro de... muitos outros 'eus'", que chegou aqui, neste "outro mundo". Às vezes, penso em como seria bom encontrar-me de verdade comigo mesmo, com algum daqueles outros eus, que tomou uma decisão diferente de alguma daquelas que me trouxeram até onde estou hoje. Pode ser aquele que permaneceu no primeiro emprego, que não ficou rico, mas construiu um pequeno, porém seguro, patrimônio, que mantém com aquela garota por quem se apaixonou, junto com os três filhos que geraram e criaram juntos, e que hoje são jovens adultos, a caminho de seus próprias realizações profissionais; às vezes, sou visitado por aquele outro "eu", que se aventurou a sair do país, em época de crise, e que foi bem sucedido, e vem zombar do "eu" em que me tornei, fracassado, frustrado e sem chances de retornar ao que já fui, pois o tempo "deste mundo" não me premite retornar... e me sinto, no fundo, feliz, por saber que um outro "eu" foi bem sucedido; em uma dimensão paralela, eu estou feliz e realizado, e visito os outros "eus" que não tiveram a mesma ventura.
Certa ocasião, fiz amizade com uma família, cujo pai me ajudou a perceber a teoria do centro do universo.
Num teatro infantil, em que eu fui acompanhando minha namorada, filha daquele senhor, daquele sábio que adotei como guru, vimos algumas das aventuras de Pedro Malazartes. Na peça, o rei pergunta a Malazartes, testando a sapiência que o personagem central propalava: "Onde fica o centro do mundo?" Então Malazartes responde: "Aí, mesmo! Exatamente onde está vossa cabeça! Se duvida, vossa majestade meça a distância da ponta final do mundo à sua frente, vire-se para o outro lado, e meça a sua distância até o limite oposto do mundo. Se não der a mesma distância, pode me reprovar!" O rei pensou, pensou, ficou atrapalhado, e se deu por vencido. A platéia riu, e a peça continuou, com muitas outras risadas.
Após a peça, comentei com minha namorada sobre a sagacidade de Pedro Malazartes, e o pai dela, que tinha nos levado ao teatro, disse: "É verdade! É correto o que o espertalhão disse ao rei, sobre o centro do mundo."
"Ele enganou o rei, que não podia provar o contrário!", retruquei.
"Mas não era nenhum truque!", objetou meu pretenso futuro sogro. "O centro do Universo, para o rei, era exatamente o ponto onde ficava o centro de sua consciência. O mesmo acontece com você, comigo e com todos os seres. Cada um é o centro da percepção, da consciência e do conhecimento de seu próprio Universo. Por exepmlo: outro dia, quando subíamos pela ladeira do Farol, você arfava, subindo com dificuldade, enquanto eu e minha filha subíamos juntos, na mesma velocidade, sem alterarmos nosso ritmo respiratório. A ladeira era a mesma, só que, para o meu universo, e de minha filha, era uma ladeira suave, mas para o seu universo, era íngreme. Por isso, você não aguentava tanto quando nós! Cada um de nós molda o seu universo conforme sua própria consciência e desejos! Quando duas pessoas, que vêm de lugares diferentes, se encontram pela primeira vez, são dois universos que se cruzam, no Universo maior das Possibilidades, e no mais estreito, mais ainda muito amplo, Universo das Probabilidades. A interação dessas pessoas vai depender do universo particular que cada uma moldou para si. Se houver pontos concordadntes, essas duas pessoas têm grande probabilidade de se tornarem amigas, mas, se forem muito discordantes naquele primeiro momento, provavelmente não terão harmonia. Queira ou não, acredite ou não, somente você pode determinar o que vai permitir ou não entrar e permanecer no seu próprio Universo, do qual você é o centro."
"Mas, por que somos obrigados a fazer o que não queremos, a cumprir ordens e leis coma as quais não concordamos?"
"Ninguém é obrigado a fazer o que não deseja! Do mesmo modo que este "você", que está aqui na minha frente, teve que fazer coisas que não queria, existe, em alguma dimensão paralela, próxima de você, o outro "você", que optou por não fazer as mesmas coisas. O importante é que você saiba que você é o centro do seu próprio Universo, e que existem muitos outros universos, comuns no mesmo tempo, e no mesmo espaço, mas em dimensões diferentes, paralelas e permeáveis."
Este é o princípio da teoria Centre, que junto com a idéia do Universo Triúno, vem apoiar a Antropomática.
Até a próxima!
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