domingo, 7 de novembro de 2010

Antropomática na Prática

Dentro dos conceitos citados em minha última postagem, aliados às ideias absorvidas pela curta mas profícua convivência com John Buchanan, nos anos de 1972 e 1973, quero inserir minha pretensão de ajudar as pessoas a usarem o conceito geral da Antropomática, ou seja, do Homem (Ser Humano) Automático.
Falo Homem como Ser Humano, pois a definição desse ser como todos nós, pertencentes à mesma espécie, se feita apenas no masculino (Homem), dá uma impressão sexista, de excluir as mulheres, ou as pessoas de autodefinição sexual diferenciada. Então, para evitar dúvidas ou atritos, usarei a palavra mais genérica, "pessoa". No entanto, se, em algum momento, eu escorregar e escrever o Homem, sem especficar um personagem masculino, espero que me perdoem pelo deslize.
Antropo, como já disse, se refere ao Ser Humano, e Mática, ao método. Método, que vem da fusão, no idioma grego, das palavras "meth" (meta, final, objetivo, alvo) e "odos" (percurso, caminho, passos), pode se traduzir como "caminho para se chegar ao alvo", ou, mais modernamente, "ações que levam, passo a passo, a uma meta".

Durante toda a nossa vida, procuramos atingir metas, ou objetivos, e procuramos os caminhos para chegar a elas. Muitas vezes, vagamos, perdidos, pelo processo de tentativa, erro e correção (que volta a nova tentativa, novo erro e nova correção), o que nos toma muito tempo e muito esforço, ou seja, custa caro. Por esse caminho, podemos tender à desistência de atingir nossas metas.
Durante toda a nossa vida, também, criamos hábitos e manias, na maioria das vezes, inconscientemente. A nossa maneira de falar, que começa a se manifestar na primeira infância, não é nada mais do que um hábito. O idioma que falamos, também é um hábito. Para podermos nos comunicar com as pessoas ao redor, usamos a mesma língua e a mesma linguagem que aquelas pessoas. Se uma pessoa nascida no Brasil, por exemplo, se mudar, ainda criança, para outro país, onde a língua for muito diferente, acabará se habituando à língua do novo país, e, quanto mais tempo residir lá, tanto mais se acostumará àquela língua, de modo que, gradualmente, vai esquecer sua língua nativa. É um hábito, que como todos os outros, fica mais ou menos arraigado na nossa memória, quanto mais ou menos o praticarmos.

O objetivo da Antropomática, portanto, é criar uma consciência, e uma atitude, que nos permita ser ágeis, tanto quanto possível. Quanto mais praticarmos uma arte ou ofício, tanto melhor nos tornaremos, e isso vai se refletir, no futuro, pelo reconhecimento das pessoas ao nosso redor. Ludwig Van Beethoven (segundo uma biografia sua que li, num fascículo que acompanhava um disco, com algumas obras suas), não gostava de música, mas teve essa arte como ofício, por imposição de seu pai. Diz o texto que o pai de Ludwig contratou um professor de composição para fazer de seu filho um prodígio tão notável quanto Mozart e Bach. Um dia, o professor chegou ao velho Beethoven e sentenciou: "Desisto! Seu filho pode ser um grande matemático, ou um notável engenheiro, mas, como compositor, é um caso perdido!" O fato é que o pequeno prodígio tinha mais afinidade com as ciências exatas do que com a arte, mas, pela imposição do pai, teve que adaptar uma coisa à outra. Talvez seja por isso que tenha sido tão bom compositor que, mesmo depois de ficar quase totalmente surdo, ainda compunha sinfonias maravilhosas (a Nona, talvez a mais bela e, com certeza, a mais conhecida de suas sinfonias, ele fez com menos de 10 % de capacidade auditiva): ele compunha suas músicas "matematicamente"! Estabelecendo, à maneira de Pitágoras, as relações matemáticas entre as frequências e os tempos das notas, e a harmonia existente dentro dos acordes, ele conseguia criar melodias que levavam da ternura à fúria, da calma monástica à alegria. Transmitindo, com os sons, as emoções, os sentidos e sentimentos pretendidos, ele não precisava "ouvir" suas sinfonias para "escuta-las", senti-las e fazer os músicos da orquestra transmitirem à plateia toda a emoção. "A emoção", dizia John Buchanan, "é um recheio, que só pode ser completamente saboreado, se coberto pela massa da lógica."

A emoção, sem a lógica, pode até mover as massas, fazer chorar e rir, criar verdadeiras revoluções, mas, além de perder a beleza, cria o risco de se tornar uma grande decepção.

Na tentativa de negociar o licenciamento da patente da lâmpada elétrica com um proposto fabricante, e depois de estabelecer a confusão entre a importância da invenção e da verba para publicação, o advogado de Johann Philips perguntou a Thomas Alva Edison: "Senhor Edison, sabemos que uma boa invenção, se não obtiver recursos físicos e financeiros para sua produção e venda, será um fracasso... mas, por outro lado, uma instituição financeira, por mais poderosa que seja, sem criar nada de novo, pouco contribuirá para o progresso. Então, para estabelecermos uma relação justa de valor, eu lhe pergunto: qual é a fórmula do gênio?
Edison, compreendendo o ponto, que pretendia, no fundo, estabelecer o percentual justo do royalty a ser pago pelo licenciamento da sua invenção, respondeu, sem titubear: "Um gênio se faz com dez por cento de inspiração e noventa por cento de transpiração!" Essa resposta criou um valor que foi, por vários anos, o tributo legal aplicado aos negócios de licenciamento de patentes, nos Estados Unidos e na Europa.
Depois da Grande Depressão, vendo o nazismo se alastrar pelo mundo, e prevendo a iminência de entrar na guerra, e, sobretudo, sabendo que a vitória, numa guerra de grandes proporções, dependia, sobretudo, da tecnologia, o Presidente Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos, encomendou uma campanha nacional, para que os inventores mais capacitados apresentassem projetos de novos equipamentos bélicos, capazes de vencer os criativos alemães e os audazes japoneses. Para minimizar os custos, que certamente viriam, além da fabricação de novos artefatos, com os royalties, o governo dos EUA publicou uma série de reportagens, apoiando uma campanha publicitária institucional maciça, com a famosa frase de Edison, mas com uma pequena modificação: "Um gênio se faz com 1% de Inspiração e 99 % de Transpiração. - Thomas A Edison". A indústria, como um todo, aprovou a frase, pois, apoiada nela, poderia pagar menos royalties aos inventores, e obter muitos lucros com a Guerra.
Em 1972, vendo essa frase ser citada num programa de televisão, John Buchanan disse: "O certo seria: 0,9 % de Inspiração, 90 % de Elaboração, e 9 % de Ação, de preferência SEM Transpiração!"
Então, eu lhe perguntei: "E o 0,1 % que falta?"
Ele respondeu: "Esperto, você notou que faltava 0,1 %! Essa é a cota da Ocasião!"
E exemplificou: "Quem inventou o avião? Foi o brasileiro Santos-Dumont? Foram meus compatriotas, os irmãos Wright? Foi o francês Bleriot? Foram os italianos? Os alemães? Os portugueses? Não: foi a ocasião! A navegação aérea tinha se tornado uma necessidade, naquele tempo. As invenções da época já pediam por um transporte mais rápido e seguro, que driblasse as curvas das estradas, e as dificuldades da navegação marítima. Já existia o cabograma, que transmitia mensagens quase simultaneamente através do oceano. Mas os transportes eram extremamente lentos, e os balões, imprecisos. Os próprios dirigíveis eram pouco confiáveis. As ideias de Jules Verne, no seu romance "O Dono Do Mundo", citando um veículo que podia trafegar pela terra, navegar na superfície e no fundo do mar, e até no ar, tinha apontado para a possibilidade de uma aeronavegação autônoma, e todos os inventores do mundo pesquisavam e batalhavam naquela direção. A tecnologia prévia já existia; só faltava o produto. Era a ocasião propícia. Santos-Dumont foi mais feliz, mas, fatalmente alguém chegaria lá! Então, independente de quem teve a melhor ideia, era a ocasião propícia para o surgimento do avião!"
"E como podemos usar, na prática, sua equação?" insisti.
"Se Edison pensasse, na época, como eu penso, ele não precisaria de mais de 3.000 experiências frustradas até chegar à lâmpada elétrica. Com mais elaboração, mais cálculos e menos tempo, gastando menos e tendo menos frustrações, ele teria resolvido o problema racionalmente."
Como eu ainda não estava satisfeito, ele me disse: "Amanhã eu vou fazer as compras da família. Venha tomar café conosco, e eu lhe darei um exemplo. Sairemos daqui às oito horas."
Eu fui, e amanhã conto o resto!